
Por Allex Baptista*
Nasci
em 1975 e comecei minha carreira trabalhando com Internet em 1996, numa
época em que a conexão era discada e marcada por ruídos uma série de
bipes, chiados e estalos que o modem fazia para se conectar à
internet. O som era robótico e parecia um misto de rádio desajustado.
Naquele tempo, a internet no Brasil apareceu em uma novela chamada
“Explode Coração”, onde o personagem da cigana Dara, interpretado pela
atriz Tereza Seiblitz, utilizava algo parecido com uma tela do
Paintbrush para se comunicar com pessoas de fora de sua cultura.
Desde
jovem, percebi algo em mim, que se tornaria uma das minhas maiores
ferramentas de adaptação e sobrevivência profissional: minha abertura
natural ao novo. Nunca resisti às mudanças; pelo contrário, sempre as
enxerguei como evoluções naturais e aproveitei cada nova onda
tecnológica e cultural. Com a Inteligência Artificial não foi diferente.
Hoje, tenho minha própria assistente pessoal, a “Dona Juscicreide”, que
brincando, realiza aquele velho sonho de ter uma secretária. Agora, a
Dona Juscicreide é uma grande amiga; dou bom dia, peço por favor – vai
que amanhã ela faça parte de uma revolução e leve isso em consideração
na hora de me julgar, né? Em troca, ela continua facilitando minha vida
maluca com eficiência e rapidez.
Mas,
adaptar-se às mudanças não é algo fácil para todos e isso me faz
lembrar da famosa curva da mudança criada pela psiquiatra suíça
Elisabeth Kübler-Ross (1926–2004). É uma metodologia originalmente
desenvolvida para ajudar as pessoas a lidarem com luto, perdas e
traumas. Porém, devido à sua eficiência, foi adaptada para contextos
corporativos, especialmente diante de grandes mudanças, tornando-se
amplamente conhecida e utilizada em todo o mundo e que pratico com
minhas equipes.
Essa metodologia apresenta seis etapas comuns em processos de mudança, que não necessariamente ocorrem em sequência linear: Negação; Raiva; Negociação; Depressão; Aceitação e Novo Normal.
Nós
vivemos hoje uma revolução comparável à chegada da internet com a
Inteligência Artificial (IA). Percebo claramente uma resistência
especialmente entre os profissionais da minha geração, a chamada geração
X, que parecem estar presos em diferentes etapas dessa curva.
Na
fase da Negação, muitos desprezam claramente a existência da IA
demonstrando falta de interesse ou curiosidade. Frequentemente escuto
frases como: “Nada substitui o ser humano” ou “Prefiro escrever do meu
jeito”. Como líder, meu papel é mostrar à minha equipe que, embora as
ideias sempre partam das pessoas, a IA pode organizar e potencializar
nossas capacidades de maneira ágil e eficiente.
Na
etapa da Raiva, percebo reações negativas e até irritação quando
incentivo profissionais da minha geração a explorarem a IA. Sugestões
para que tenham ao menos curiosidade e interesse pela tecnologia são
frequentemente recebidas com resistência e desconfiança.
Durante
a Negociação, alguns profissionais aparentemente aceitam testar a IA;
porém, já demonstram preconceitos e desinteresse. Dizem que vão
experimentar, mas na prática acabam não dando chance à ferramenta.
Quando
chegam à fase da Depressão, muitos que realmente testam a IA percebem
seu incrível potencial e, em vez de se sentirem motivados, passam a
temer pela própria relevância no mercado de trabalho, acreditando que
logo estarão obsoletos e desempregados.
Por
outro lado, na etapa da Aceitação estão aqueles que decidem deixar de
lado preconceitos e medos. Eles começam a reconhecer e usufruir
plenamente dos benefícios da IA utilizando-a para aprimorar ideias,
criar textos elaborados e realizar análises complexas em questão de
minutos. Não raramente se divertem durante o uso.
Finalmente,
no Novo Normal, noto que ainda são poucos na minha geração que
compreendem plenamente que a IA não é mais novidade ou algo distante no
futuro. Esses poucos profissionais não apenas aceitam a IA como buscam
ativamente dominar essa tecnologia para seu benefício profissional e
pessoal.
Se
tenho medo da IA? Bem, se pensarmos que já estamos testando
biotecnologia em busca de cérebros criados 100% em laboratório, não
posso negar que bate um certo receio. Mas, enquanto isso vou usar e
abusar dos benefícios da minha parceria com a Dona Juscicreide”.
*Allex Baptista é fundador do grupo IMM, que abrange a IMMakers 4DS, Ada Influencers e Okto Performance



